Obra dos parquinhos infantis: Prefeitura e administração batem cabeça e sobram dúvidas

A Secretaria do Verde reformou e a administração entregou a obra dos parquinhos infantis como se ela estivesse pronta. Mas não está. Há brinquedos com partes quebradas ou apodrecidas, pisos de borracha soltos e vários pontos obscuros no contrato. Isso tudo mesmo após um gasto de meio milhão de reais do nosso dinheiro público.

E, pior, Prefeitura e administração do parque não se entendem quanto a quem cobrar, e de que forma. E, para além da enorme dificuldade em assumir qualquer problema, não aceitam nenhuma crítica da população.

Em meio a esse quadro nebuloso, as áreas infantis do Parque da Aclimação seguem fechadas, devido à pandemia. Mas até vídeo eleitoreiro já foi feito no local pelos “donos do bairro”, os mesmos nomes e rostos de décadas… Nossas crianças, contudo, seguem sem o seu mais importante espaço.

Para tentar esclarecer alguns pontos e encaminhar soluções, aconteceu neste sábado 29 de agosto de 2020 uma reunião online (foto acima) para tratar exclusivamente dos problemas na obra dos parquinhos. Estavam presentes no encontro virtual conselheiros do Parque, conselheiros da subprefeitura da Sé e da Vila Mariana, representantes da Secretaria do Verde e dezenas de frequentadores.

Infelizmente, após a reunião, restaram mais dúvidas do que respostas. Vamos entender algumas questões:

1. A obra não está pronta. A Secretaria do Verde informou que não há ainda o termo de recebimento da obra. E este termo é o documento público, oficial, atestando que uma obra está pronta para ser entregue à população. Ou seja, apesar de ter sido declarada pronta pela administração do parque e pelos políticos do bairro, a obra não está pronta. Nem na prática e nem oficialmente.

2. Brinquedos bons foram retirados. Prefeitura e administração sequer se entendem quanto ao número de brinquedos antigos reaproveitados. Há quem fale 4, e há quem fale em 11. O Conselho inclusive descobriu, nos documentos da obra fornecidos pela própria Prefeitura, um memorando oferecendo para outros parques brinquedos em bom estado retirados do Aclimação. A pergunta é óbvia: se estavam em bom estado, por que foram retirados?

3. Brinquedos com partes apodrecidas foram deixados. Também não está claro no contrato se há ou não a obrigação de restauro dos brinquedos antigos que ficaram. Muitos deles estão com partes quebradas ou apodrecidas. E foram simplesmente deixados lá como eram antes da obra de meio milhão.

4. Quem vai arrumar o novo piso, que já deu problema? Mais um ponto obscuro não esclarecido na reunião é sobre o novo piso emborrachado. Fotos recentes mostram placas do piso descolando antes mesmo de os parquinhos serem abertos às crianças. Foi prometido que a manutenção do piso seria responsabilidade dos próprios funcionários do parque, independentemente de ter havido problemas na colocação feita pela empresa. O Conselho questionou se os trabalhadores do parque têm treinamento e equipamentos adequados para acumular mais esta função.

A resposta: ataques à população do bairro

São muitas questões em torno de uma obra que, desde o princípio, gerou polêmica pelo seu valor altíssimo e pela sua inutilidade. O problema das áreas infantis sempre foi sanitário, e não mobiliário. E, de quebra, ainda foram retirados elementos naturais e permeáveis como areia e terra batida.

Há anos essa questão vem sendo debatida pela população do bairro, outras administrações do parque e pelo Conselho anterior. Já existia inclusive uma proposta de ajuste nas áreas infantis, a custo quase zero, pactuada por todos. Essa proposta, contudo, foi jogada no lixo em nome da obra de R$ 500 mil proposta pelo “vereador do bairro”, que está há décadas na Câmara Municipal.

Tantos problemas em uma obra tão cara geraram indignação por parte do Conselho e dos frequentadores que acompanharam a reunião. E, infelizmente, a resposta do governo municipal foi a pior possível.

A representante da Secretaria do Verde, ao invés de esclarecer questões como as enumeradas acima, afirmou que os moradores do Cambuci e da Aclimação estariam “faltando com o respeito” com as autoridades.

O Movimento Mães e Pais da Aclimação lamenta que a participação cidadã, de pessoas preocupadas com uma obra cara e de resultado pífio como essa, seja tratada como “desrespeito”.

Especialmente porque no Conselho anterior, mães e pais que frequentam o parque já tinham feito inúmeros alertas apontando exatamente aquilo que se vê agora: a obra é cara, inútil e requer uma manutenção que a Prefeitura não será capaz de realizar.

Voltamos a qualquer momento com mais informações sobre o seu bairro, o seu parque e o seu dinheiro.

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PS: Leia o relato desta mesma reunião feito por uma conselheira participativa da Vila Mariana no blog Ocupa Mãe.

Carolina Borges confirma as intimidações por parte do poder público.

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PS 2: Para entender o uso de parques públicos como feudos por vereadores, leia este texto do Forum Verde Permanente.

https://www.forumverdepermanente.eco.br/2020/08/forum-verde-aponta-uso-de-parques-como.html
Madeira apodrecida nas obras que custaram R$ 500 mil do dinheiro dos seus impostos

Placas de piso soltas na “obra do vereador”
Mais partes apodrecidas de brinquedos, mesmo após o gasto de meio milhão de reais
A prova do custo da obra
A prova do alto custo da obra (reprodução de Diário Oficial)

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