Primeiro ano do novo Conselho Gestor do Parque da Aclimação: obstáculos e esperança

Hoje faz um ano que ocorreu a eleição no Conselho Gestor do Parque da Aclimação. Foi uma bela manifestação de participação da sociedade civil. Quase mil pessoas mantiveram-se em fila para votar durante um domingo inteiro, mesmo debaixo de forte chuva!

Nessa eleição, os candidatos do Movimento de Mães e Pais da Aclimação, Paula e Érikson, foram os mais votados, e Cláudia (que faz parte do Movimento, mas fez campanha independente, apoiada por amigos e outros movimentos, como o Fórum Verde Permanente) foi eleita primeira suplente.

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Primeiro obstáculo: posse adiada por meses

A posse era esperada para dezembro no máximo, mas a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente (SVMA) foi adiando a cerimônia e só em meados de fevereiro de 2020 fomos empossados.

É uma tremenda  falta de responsabilidade deixar o Parque sem Conselho Gestor por mais de três meses, já que o mandato do Conselho anterior encerrou-se em novembro de 2019.

E em março, quando seria a primeira reunião, os parques municipais foram fechados devido à pandemia. Ora, isso não seria motivo para não fazermos reuniões — estas poderiam ser virtuais.

Mas não, a secretaria do Verde só autorizou reuniões virtuais dos Conselhos em julho de 2020! Enquanto isso, durante a pandemia, as obras de reforma dos playgrounds prosseguiram sem que pudéssemos fiscalizá-las, e foram anunciadas como “finalizadas” pelo vereador que se diz “do bairro” em junho de 2020.

Apenas em 25 de julho de 2020, nove meses depois da eleição, aconteceu a primeira reunião, logo após a reabertura do Parque.

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Obra cara e cheia de problemas

Os playgrounds infantis seguiram fechados, mas com a reabertura do Parque os frequentadores puderam ver mais de perto os brinquedos e constatar vários defeitos graves. Ou seja: a obra recém-entregue apresentava problemas antes mesmo do uso por qualquer criança.

Na segunda reunião do Conselho, em 15 de agosto de 2020, o Movimento já havia denunciado o problema para a população. Não havia mais como ocultar, e a própria administradora foi obrigada a admitir a necessidade de reparos.

Os brinquedos novos tinham defeitos visíveis, como gangorras rachadas e parafusos desencapados. O piso de borracha estava se soltando e um escorregador foi quebrado por um tronco durante uma poda. E os brinquedos antigos reaproveitados também estavam danificados.

O Conselho então convocou a SVMA para uma reunião extraordinária em 29 de agosto, mas as representantes da secretaria não conseguiram dar explicações. E ainda revelaram que a obra sequer tinha Termo de Recebimento, o documento que atesta sua conclusão.

A SVMA foi novamente cobrada, e um fiscal da Prefeitura documentou o péssimo estado dos brinquedos novos. A empresa responsável acabou acionada para fazer reparos, mas os brinquedos antigos, contudo, ficaram como estão por “falta de dinheiro” da SVMA.

Muito antes desta obra começar, o Movimento de Mães e Pais da Aclimação vinha apontando seus diversos problemas: primeiro a obra foi feita apenas para agradar um político, uma vez que havia uma proposta de solução praticamente gratuita acordada no Conselho; depois, o preço. Custou incríveis meio milhão de reais.

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CCZ e gatos abandonados

Na terceira reunião do Conselho Gestor, em 17 de outubro de 2020, uma das conselheiras alertou para o fato de que o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) não castrou ou vacinou os gatos do parque em 2020 – e nem cuidou dos saruês.

A conselheira pediu ajuda nessa questão e também para resolver o problema dos frequentadores que alimentam os gatos em qualquer lugar e com recipientes inadequados.

O Conselho enviou então ofício ao Secretário da Saúde, já que o CCZ não responde. Foi pensada também uma campanha para conscientizar os frequentadores de não alimentarem os gatos.

Ainda sobre o tema, na quarta reunião do Conselho Gestor, agora em 7 de novembro, o médico veterinário Alexandre Hirata, frequentador do Parque, fez uma exposição detalhando os problemas do excesso de gatos abandonados — que afetam, inclusive, o bem-estar dos próprios gatos, que se tornam mais vulneráveis a doenças.

Surgiu então a festejada proposta de se organizar feiras de adoção de gatos do parque. A ideia é defendida por conselheiros, frequentadores e foi endossada pelo dr. Hirata, que tem 30 anos de profissão.

Vale lembrar que há anos o Movimento de Mães e Pais da Aclimação insiste nesses dois pontos: 1) O poder público precisa assumir a responsabilidade na solução do problema da superpopulação de gatos abandonados no parque e 2) É preciso forte incentivo à adoção, garantindo um novo lar definitivo aos animais abandonados.

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Antiga bocha: restaurante é a prioridade?

Além do fiasco da reforma dos playgrounds, tivemos também o fiasco da reforma da área do campo de bocha, que o vereador que pede votos no bairro tenta há vários anos transformar em um restaurante privado.

O tal restaurante, depois de uma licitação conturbada, foi assumido por uma empresa que sequer conseguiu apresentar um projeto básico. A contratada recebeu ainda quatro prorrogações de prazo, mas não atendeu aos requisitos mais elementares, e está tudo parado.

O Movimento de Mães e Pais lançou então uma proposta alternativa, a do Espaço Mais Verde. A ideia é oferecer mudas e sementes gratuitas; aulas, palestras e outras atividades relacionadas ao meio ambiente; espaço para as crianças terem contato com terra e plantas; horta urbana para uso do bairro e mais uma série de possibilidades relacionadas ao verde e à ecologia. Tudo de graça e aberto para todos.

Clique aqui para conhecer melhor a proposta do espaço Mais Verde e apoiar o abaixo-assinado!

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Eleições: hora de renovar

Todos esses problemas com os quais nos deparamos demonstram que a real participação da sociedade civil na gestão do parque depende de diversos fatores — principalmente a falta de recursos, a má gestão do parque, da Secretaria do Verde e da Prefeitura e a interferência constante e indevida por parte do vereador que se diz “do bairro”.

São muitas dificuldades, mas o Movimento Mães e Pais da Aclimação se orgulha de estar ajudando a mudar a cara da política da região. Há décadas a Aclimação e o Cambuci estão nas mãos dos mesmos. Mas hoje quem quer batalhar por um parque e um bairro melhor tem outra opção além de se submeter aos interesses de um vereador populista.

Nesse sentido, o Movimento decidiu lançar uma carta-manifesto sobre o que deseja de um vereador ou vereadora, e ainda apoiar candidaturas à vereança em São Paulo, após um processo democrático e pluripartidário de indicações, sabatinas e debates.

O sonho de uma cidade inclusiva, com meio ambiente preservado e serviços públicos de qualidade, mais justa para todas e todos e onde haja uma verdadeira participação popular só será conquistado com muita união e empenho. Venha somar-se a nós nessa luta!

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PS: se quiser entrar em nosso grupo de zap, escreva agora mesmo para [email protected] 🙂

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Posse do Conselho, em fevereiro de 2020: Paula e Erikson (os dois mais votados), Sandra (integrante do grupo) e Claudia (eleita primeira suplente).
Esperança: mil moradores do Cambuci e da Aclimação foram ao parque no domingo votar
A votação foi eletrônica, e a população compareceu em peso


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